segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Antes que Seja Tarde

Amigo,

tu que choras uma angústia qualquer

e falas de coisas mansas como o luar

e paradas

como as águas de um lago adormecido,

acorda!


Deixa de vez

as margens do regato solitário

onde te miras

como se fosses a tua namorada.


Abandona o jardim sem flores

desse país inventado

onde tu és o único habitante.


Deixa os desejos sem rumo

de barco ao deus-dará

e esse ar de renúncia às coisas do mundo.


Acorda, amigo,

liberta-te dessa paz podre de milagre

que existe

apenas na tua imaginação.


Abre os olhos e olha,

abre os braços e luta!


Amigo,

antes da morte vir

nasce de vez para a vida.

Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"

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